quinta-feira, 1 de abril de 2010

0 Assassinos de Eloá Pimentel e do cartunista Glauco serão os próximos alvos da Justiça

São Paulo – Depois da condenação de Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, o próximo réu famoso a enfrentar o tribunal do júri será o motoboy Lindemberg Alves, 22 anos, acusado de sequestrar e matar a estudante Eloá Pimentel, 15, em 2008. Outro criminoso notório que também está na mira para ser julgado por sete pessoas comuns é o estudante Carlos Eduardo Sundfeld Nunes, 24. Ele responde pela morte do cartunista Glauco Villas Boas e seu filho Raoni, em 12 de março deste ano. Lindemberg e Nunes serão julgados no segundo semestre sob forte apelo popular.

O caso Eloá chocou o país. Começou com uma reunião inocente entre adolescentes, num bairro pobre de Santo André (SP), região do ABC paulista. No meio da tarde, Lindemberg apareceu sem ser convidado. Estava armado e mandou ficar no apartamento apenas a ex-namorada e Nayara Rodrigues, 15, amiga da vítima. Sua intenção era reatar o namoro à força. O cárcere durou quatro dias e só acabou porque policiais do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) invadiram o prédio. O motoboy(1) disparou a arma, acertando Eloá na cabeça e na virilha e Nayara na boca.

A defesa do réu deverá sustentar no tribunal que Lindemberg só atirou porque ouviu um disparo dos policiais que invadiram o apartamento. “Há muita coisa a ser revelada nesse caso. Será um julgamento cheio de surpresas”, anuncia a advogada Ana Lúcia Assad.

Como o dos Nardoni, o julgamento de Lindemberg promete clamor social. “A opinião pública geralmente se sensibiliza quando o crime envolve romance ou tem como envolvidos pessoas bonitas da classe média”, analisa o cientista social Laurentino Olsen, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ele ressalta ainda que, nesses casos, a população acompanha o desenrolar da história como se fosse um romance policial.

Testemunhas
Pela previsão do promotor público que acusa Lindemberg, Antonio Nobre Folgado, o motoboy deverá sentar-se no banco dos réus do tribunal de Santo André logo no início do segundo semestre. “Ele já foi pronunciado, falta apenas marcar a data do julgamento. Para isso, o juiz José Carlos Carvalho Neto precisa do resultado de uns recursos que a defesa entrou no STF (Superior Tribunal Federal) pedindo a soltura do réu”, diz o promotor. Ele se refere ao habeas corpus pedidos pela advogada Ana Lúcia.

Assim como a defesa, a acusação do caso Eloá tem direito de arrolar cinco testemunhas. Segundo Folgado, serão chamadas ao tribunal do júri Nayara, testemunha ocular do crime, um irmão da garota assassinada, um amigo de Lindemberg; a mãe de Eloá, Ana Cristina Pimentel; e mais dois amigos que estavam no apartamento e foram dispensados pelo motoboy assim que ele anunciou o sequestro. A defesa deverá arrolar os policiais do Gate que invadiram o apartamento.O jurista Natanael Zanatta, da Universidade de Campinas, afirma ser natural casos de grande repercussão ganharem clamor popular, o que acaba por influenciar a Justiça. “Em muitos casos, jurados e juízes levam em conta a repercussão do crime na mídia e na sociedade para condenar e aumentar uma pena”. O juiz Maurício Fossen deixou claro na redação da sentença que condenou os Nardoni que pesou na decisão de mantê-los presos a repercussão do caso. “Eles já estavam condenados pela opinião pública. Os jurados só referendaram o que a população sentia e desejava”, arrisca Zanatta.

1 - Trinta anos
Lindemberg foi indiciado e denunciado à Justiça de São Paulo por homicídio doloso qualificado —com intenção de matar— e duas tentativas de homicídio doloso qualificado. Ao todo, o inquérito tem 186 páginas com o depoimento de 26 pessoas. A acusação prevê que, na hipótese de ser condenado pelo júri, o motoboy receba pena de pelo menos 30 anos de prisão.

A opinião pública geralmente se sensibiliza quando o crime envolve romance ou tem como envolvidos pessoas bonitas da classe média”
Laurentino Olsen. Cientista social da UFRJ

“Entrarei derrotada”

A advogada Ana Lúcia Assad, defensora de Lindemberg Alves, demonstra preocupação com o assédio da população quando enfrentar o tribunal. “Entrarei no caso derrotada. O júri já vai ao tribunal com uma sentença pronta na cabeça, porque a opinião pública já condenou o meu cliente”, diz a defensora.

Ana Lúcia acredita ser uma vantagem o fato de Lindemberg não ter dado sua versão para o que aconteceu. O motoboy falará pela primeira vez no tribunal do júri. Lindemberg está na mesma prisão que Alexandre Nardoni. Como quase todos os presos, converteu-se a uma igreja evangélica e assiste aos cultos semanalmente. Segundo Sandra Brasil Porto, da Capelania Evangélica de Presídios do Estado de São Paulo, Lindemberg não perde uma reunião. Também conseguiu emprego na cadeia. Trabalha numa fábrica de fechaduras que mantém uma unidade de produção dentro do cárcere.

O motoboy assiste televisão e acompanhou de perto o julgamento do pai e da madrasta de Isabella Nardoni. Anti-social, Lindemberg não costuma participar das atividades de lazer, como as partidas de futebol. Prefere ler os livros levados pela advogada.

O mais recente apreciado pelo réu foi A cabana, de William Young. Ironicamente, a obra fala de uma garota sequestrada e brutalmente assassinada dentro de uma cabana durante as férias familiares. O pai da vítima na obra de ficção passa a frequentar o local do crime porque descobre que dentro da tal cabana é possível falar com Deus. (UC)

Fonte: Correio Brasiliense

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